Friday, September 03, 2010

Maria Bethânia e as Palavras


Vem de muito tempo a ligação de Maria Bethânia com as palavras. Desde o colégio em Santo Amaro, quando seu professor Nestor Oliveira a ensinou, assim como a seu irmão Caetano Veloso, a ouvir poesia. Esta paixão pelas palavras ela levou para os palcos, nos textos que sempre recitou em seus espetáculos – desde o famoso show de estréia no Teatro Opinião, em 1965.
E é esta relação com as palavras que Bethânia vai mostrar durante duas semanas no Teatro Fashion Mall (dias 03, 04 e 05 e 10, 11 e 12 de setembro, de sexta a domingo) com leitura de poemas e textos escolhidos por ela, com os quais tem intimidade e que foram importantes para sua vida. Neste projeto, contou com a colaboração de Hermano Vianna e Elias Andreatto. Mesclando leitura e música, com canções pouco usuais em seu repertório, será acompanhada do violonista Luiz Brasil e do percussionista Carlos Cesar.
O projeto começou em Minas, no ano passado, quando Bethânia foi convidada pela UFMG para participar do ciclo de conferências Sentimentos do Mundo. Logo em seguida realizou outras leituras na Casa do Saber/RJ, PUC/RJ, no Itamaraty/Brasília (para o Encontro Mundial dos Países de Língua Portuguesa) e, mais recentemente, na Casa Fernando Pessoa, em Portugal, como retribuição à Ordem do Desassossego que recebeu com a imortal Cleonice Berardinelli por ser, no Brasil, uma das maiores divulgadoras do legado de Fernando Pessoa.
Agora, pela primeira vez em teatro, Bethânia lerá poetas e escritores de todas as gerações: Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Ramos Rosa, Sophia de Mello Breyner Andersen, o moçambicano José Craveirinha, Padre Antonio Vieira, Caetano Veloso, Fausto Fawcet, Ferreira Gullar, entre muitos outros, entremeados por trechos de conhecidas canções brasileiras e portuguesas como ABC do Sertão (Luiz Gonzaga), Romaria (Renato Teixeira), Último Pau de Arara (J. Guimarães/Venâncio/Corumbá), Estranha Forma De Vida (Amália Rodrigues), Marinheiro Só (domínio público/adaptação Caetano Veloso), Dança da Solidão (Paulinho da Viola) e Menino de Jaçanã (Luis Vieira/Arnaldo Passos).
Maria Bethânia reconhece que dizer poesia, hoje em dia, “neste mundo de corre-corre”, é “um desafio”, mas também, “uma idéia que comove e atrai”. E Fernando Pessoa, o poeta da sua vida, não fica de fora. “É a minha tradução mais fiel”, afirma, acrescentando: “Suporta minha respiração, minha cadência e o ritmo desassossegado do meu coração”. O poeta é lembrado com pungentes poemas, como o Poema do Menino Jesus, de Alberto Caieiro, popularizado pela intérprete a partir do show Rosa dos Ventos; e Ultimatum, de Álvaro de Campos, que soa impressionantemente atual desde sua leitura no show Dentro do Mar tem Rio.

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